NO GERAL NÃO TINHA NADA DE NOVO: LEIS, ACESSO FÍSICO, ACESSO INFORMACIONAL, ACESSO ATITUDINAL, MAS AI ELA FALOU NO ACESSO ESTÉTICO E AO FALAR DELE PARECIA TER LIDO MEUS PENSAMENTOS PQ EU NUNCA GOSTEI DOS MATERIAIS PARA FACILITAR A FRUIÇÃO DA OBRA DE ARTE PELOS CEGOS. AO MEU VER FALTAVA ALGO SÓ QUE EU NÃO SABIA DIZER O QUE ERA. DE REPENTE FICOU CLARO: É A EXPERIÊNCIA ESTÉTICA! É ÓBVIO: PRECISAMOS DAR O ACESSO ESTÉTICO, E NÃO SÓ PRA CEGOS, PRA TODOS. FIZ UMA PEQUENA PESQUISA E HEIS O QUE ACHEI:
"No que diz respeito à acessibilidade dos cegos aos museus, parecem existir duas orientações ou políticas que vêm sendo seguidas. A primeira é uma política do acesso à informação e a outra é uma política do acesso à experiência, onde se destaca o papel da experiência estética. Embora a informação tenha seu papel na vida cotidiana, é sobretudo praticando a segunda dessas políticas que abrimos o caminho para os processos de aprendizagem inventiva. A primeira privilegia a transmissão de informações sobre as obras, sobre seus criadores e sobre seu contexto histórico. Para isto lança mão de dispositivos como maquetes, mapas táteis, gravações em áudio e recursos diversos em Braille (placas, folhetos, etc). Em se tratando de obras de arte, o mapa tátil dificilmente é capaz de produzir a percepção do que a arte tem de arte, pois ele se limita a representar uma forma. E o acesso á arte depende mais da percepção da dimensão expressiva da obra do que de sua dimensão representativa. É o campo de forças que deve ser apreendido, ou seja, a dinâmica da forma (ARNHEIM, 1989, DELEUZE, 1981, FERRAZ, 2010) Ocorrem muitas dificuldades, sobretudo envolvendo cegos congênitos, cujo sistema cognitivo é construído em bases totalmente distintas, o que faz com que seus métodos e seu sistema de representação sejam muito específicos. No caso de cegos tardios, a informação tátil ou auditiva pode não produzir qualquer experiência nova, limitando-se ao simples reconhecimento, à mera atualização de uma experiência passada ou de um saber prévio. Uma orientação mais interessante é a política de acessibilidade voltada para a aprendizagem inventiva. Aqui o mais importante não é a informação, mas a experiência marcada pela emoção estética. A ênfase na informação corre o risco de produzir o que no campo da deficiência visual é conhecido como verbalismo, que é a utilização de palavras destituídas do substrato concreto da experiência. Por exemplo, alguns autores têm ressaltado que os métodos verbais que tentam fazer com que os cegos compreendam as cores ou o conteúdo de uma pintura se situam apenas no campo do enriquecimento dos conhecimentos e não naquele da experiência estética (HATWELL; STRERI; GENTAZ, 2000). A política da aprendizagem inventiva tem na experiência estética uma importante aliada, já que é ela que vai abrir a subjetividade para o acolhimento de sensações, afetos, forças, intensidades, surpresas, perturbações e enigmas que forçam a pensar. O aparente acesso direto dos cegos às esculturas poderia levar a crer que estas não colocam maiores problemas. No entanto, sabemos hoje em dia que não é bem assim. Os cegos têm uma percepção tátil especializada para os materiais – texturas, peso, temperatura – o que traz vantagens e desvantagens quando se trata de experiência estética. Um cego pode perfeitamente estranhar que o rosto, os cabelos e as roupas de uma pessoa tenham a mesma textura numa escultura. Evitemos, então, as conclusões fáceis e apressadas (CARIJÓ; ALMEIDA; KASTRUP, 2010). Sem falar de certas dificuldades apontadas pelos próprios cegos, há que se destacar as dificuldades e resistências dos colecionadores e conservadores de expor obras de seu patrimônio às mãos e dedos dos cegos (CANDLIN, 2004). Muitas têm sido as soluções encontradas, como salas especiais contendo apenas reproduções de obras famosas e visitas guiadas especiais para portadores de deficiência visual. Muito tem sido feito, mas há ainda temos um longo caminho pela frente. O importante é entender a especificidade da percepção das pessoas cegas e, neste sentido, a psicologia cognitiva tem uma importante contribuição. Por outro lado, é necessário ter clareza quanto aos objetivos da acessibilidade, que deve ir além da mera decisão na direção do politicamente correto. Por fim, a política de acessibilidade está sempre sintonizada com a política de ensino e aprendizagem do próprio museu, seja para pessoas com deficiência ou para o publico em geral. Se o que se visa não é apenas a transmissão de informação, o conceito de museu pode ser aproximado do próprio conceito de oficina. As oficinas são espaços de fazer junto e são propícias para compartilhar experiências. O museu pode se tornar um espaço onde experiências são compartilhadas, a atenção é cultivada e a aprendizagem inventiva tem lugar. Na direção de aproximar o fazer e a apreciação para o cultivo da experiência estética, alguns autores têm indicado, por exemplo, que a prática da argila deveria preceder a experiência de apreciação de esculturas de cerâmica. Todavia, a aproximação do conceito de museu com o de oficina vai além de procedimentos desta natureza. Ela diz respeito à proposta educacional de fazer deste espaço um território propício à surpresa, à emoção, ao acolhimento do inesperado, ao despertar do pensamento e da crítica, ao acionamento de movimentos inventivos, tanto cognitivos quanto existenciais. Fiona Candlin (2003, 2004) tem feito importantes pesquisas, dando voz aos deficientes visuais através da realização de entrevistas onde eles avaliam os programas de acessibilidade de alguns museus britânicos. Tem sido constantemente destacada a insuficiência de colocar o problema de forma dicotômica – videntes e deficientes. Os deficientes visuais formam um grupo bastante heterogêneo, com características fisiológicas, sociais, culturais e educacionais muito distintas. Suas razões para visitar um museu variam tanto quanto variam entre os videntes. Pessoas cegas podem ir ao museu porque apreciam um movimento artístico como o impressionismo, porque se interessam pela iconografia cristã, porque é um lugar para levar seus filhos ou para encontrar amigos, porque gostam da quietude do local, porque o café de lá é bom, para comprar objetos na lojinha ou para ver algo que é pertinente ao seu trabalho. Visitas guiadas são uma boa iniciativa, mas elas não devem se limitar a informações para iniciantes. Nesta medida, é importante evitar o equívoco que consiste em confundir uma deficiência sensorial específica com uma deficiência intelectual generalizada. Programas regulares com mediadores disponíveis em horário integral ou semi-integral são bem vindos, mas devem atender diferentes níveis e contemplar o desenvolvimento progressivo dos visitantes. Salas especiais para cegos são um dispositivo de inclusão bastante limitado. Afinal de contas, ir a um museu envolve um encontro com as obras, consigo mesmo e com as pessoas. A interação com os demais visitantes videntes têm sua importância, em muitos casos. Ao lado do fácil acesso a recursos em áudio e em Braille, foi destacada a necessidade de uma formação adequada de mediadores de maneira a facilitar o acesso de pessoas com necessidades especiais. É preciso que os mediadores tenham ciência de que o tato é um sentido mais lento, que requer tempo, pois funciona por partes sucessivas e não por apreensão simultânea, como é mais claramente o caso da visão (REVESZ, 1950, GIBSON, 1962, HATWELL; STRERI; GENTAZ, 2000). Além disto, os mediadores devem convidar os cegos ao toque estético, que requer a atenção concentrada e aberta (KASTRUP, 2004, 2010). A maneira de descrever uma obra também exige cuidado. Não basta um texto padronizado dito de modo automático e burocrático. O desafio é acionar, acompanhar e compartilhar uma experiência estética. Tudo isto tendo em vista que a proposta é menos de transmissão de informação e de acumulação de saber do que de cultivo da sensibilidade e de invenção de si e do mundo. Enfim, há necessidade de todo um trabalho experimental e ao mesmo tempo investigativo para a inclusão de deficientes visuais, que pode ser ocasião para um questionamento da política educacional do próprio museu. Como conclui Fiona Candlin (2003) sem mudança institucional, os eventos educativos para cegos continuarão a ser um suplemento inadequado para uma estrutura museal que se mantém intacta." (KASTRUP, Virginia. Experiência Estética para uma Aprendizagem Inventiva: notas sobre a acessibilidade de pessoas cegas a museus, UFRGS, 2010)
ALÉM DISSO ELA MOSTROU UM VÍDEO FANTÁSTICO: