O RETORNO DO FILHO PRÓDIGO, REMBRANDT, 1663-1669. THE STATE HERMITAGE MUSEUM.
"Perguntei a Suzanne: “Como devo fazer para me aproximar do Filho Pródigo?”. Ela respondeu: “Não se preocupe, Henri. Vou providenciar para que você tenha todo o tempo que queira e necessite junto à sua obra favorita”. No segundo dia de nossa estada em São Petersburgo, Suzanne me deu um número de telefone e disse: “Este é o número do escritório de Alexei Briantsev, ele é um grande amigo meu. Telefone para ele e ele lhe ajudará a chegar ao seu Filho Pródigo”. Telefonei imediatamente e fiquei surpreso ao ouvir Alexei, num inglês cordial e com um leve sotaque, prometer me encontrar na porta lateral, longe da entrada dos turistas. Sábado, 26 de julho de 1986, às 14h30, fui ao Hermitage, caminhei ao longo do Rio Neva, passando pela entrada principal, e encontrei a porta que Alexei me indicara. Entrei e alguém sentado atrás de uma mesa grande permitiu que usasse o telefone interno para chamar Alexei. Depois de alguns minutos ele apareceu e me recebeu com muita gentileza. Levou-me através de corredores esplêndidos e imponentes escadas a um lugar fora do percurso habitualmente feito pelos turistas. Era uma sala comprida, de teto alto e aprecia um ateliê de um velho artista. Os quadros estavam empilhados por toda parte. No centro havia mesas grandes e cadeiras cobertas de papéis e toda sorte de objetos. Quando nos sentamos por alguns minutos, logo se tornou evidente que Alexei era o responsável pelo departamento de restauração do museu. Com muita cordialidade e claro interesse na minha vontade de passar algum tempo com a pintura de Rembrandt, ele me ofereceu toda a ajuda necessária. Levou- me depois diretamente ao Filho Pródigo, disse ao guarda para não me molestar e me deixou. Então lá estava eu; olhando para o quadro que estivera na minha mente e no meu coração aproximadamente três anos. Estava deslumbrando diante de sua majestosa beleza. Seu tamanho, maior do que o natural, seus vermelhos intensos, marrons e amarelos, seus recessos sombreados e limiares luzidios, mas, acima de tudo, o abraço de pai e filho, cheio de luz, e as quatro misteriosas testemunhas, tudo isso me atingiu com uma intensidade maior do que poderia pensar. Houve momentos em que me ocorrera que a verdadeira pintura poderia me desapontar. Aconteceu o oposto. Sua grandiosidade e esplendor fizeram com que tudo ficasse para trás e me cativassem por completo. Vi aqui foi realmente uma volta ao lar. Enquanto muitos grupos de turistas com seus respectivos guias chegavam e partiam, sucedendo-se rapidamente, sentei numa das cadeiras de veludo vermelho defronte do quadro e fiquei olhando. Agora eu estava diante da obra original. Não somente o pai abraçado o seu filho de volta à casa, mas também o filho mais velho e três outros personagens. É uma obra grande em óleo sobre tela, medindo 2,5 m de altura por 1,8 m de largura. Levou algum tempo para que eu simplesmente estivesse ali, simplesmente me dando conta de que estava diante do que tanto queria ter visto, meramente gozando o fato de estar sozinho no Hermitage, em São Petersburgo, admirando o Filho Pródigo por quanto tempo desejasse. A pintura estava muito bem exposta, numa parede que recebia, de uma janela próxima, farta luz natural, num ângulo de 80º . De onde estava, notei que a luz se intensificava à medida que a tarde caía. Às quatro horas o sol cobria a pintura com novo brilho, e as figuras mais atrás – que pareciam somente esboçadas nas primeiras horas – pareciam sair dos seus cantos escuros. Com o entardecer, a luz do sol se tornava anelada e vibrante. O abraço do pai e filho tornou-se mais vigoroso e envolvente e os espectadores, mais diretamente participantes neste misterioso encontro de reconciliação, perdão e cura interior. Gradativamente compreendi que havia tantas pinturas do Filho Pródigo quantas as alterações na luminosidade e, por algum tempo, permaneci como que encantado com a graciosa dança da natureza e arte. Sem que me desse conta, mais duas horas haviam se passado quando Alexei reapareceu. Com um sorriso compreensivo e uma atitude de apoio sugeriu que eu estava precisando de uma pausa e me convidou para um café. Conduziu-me através dos esplêndidos corredores do museu – que era, em grande parte, o antigo palácio de inverno dos czares – até o local de trabalho onde havia estado anteriormente. Alexei e seu colega haviam disposto sobre a mesa pães, queijos e doces e me animaram para que me servisse à vontade. Certamente, quando eu fazia planos e esperava passar algum tempo tranquilo admirando o quadro, não imaginava que tomaria um café à tarde com os restauradores de arte do Hermitage. Tanto Alexei com o seu companheiro dividiram comigo tudo o que sabiam sobre a obra de Rembrandt e se mostraram ansiosos por saber por que me marcara tanto. Pareciam surpresos e mesmo um pouco perplexos diante das minhas reflexões e abordagem espiritual. Ouviam atentamente e me pediram que falasse mais. Depois do café, voltei ao quadro por mais um hora até que o segurança e a faxineira me disseram claramente que o museu estava fechando e que eu já estivera lá bastante tempo. Quatro dias mais tarde voltei para mais uma visita. Nessa ocasião, algo divertido aconteceu, algo que não posso deixar de relatar. Por causa do ângulo com que o sol da manhã atingia a pintura, o verniz empregado refletia um brilho perturbador. Peguei então uma das poltronas de veludo vermelho e mudei-a para um lugar de modo que esse brilho não interferisse e eu pudesse ver nitidamente os personagens no quadro. Logo que o segurança, um rapaz sério, de boné e vestimenta militar, viu o que eu estava fazendo, ficou muito irritado com minha ousadia em pegar a cadeira e muda-la de lugar. Caminhando na minha direção, mandou, numa efusão de palavreado russo e de gestos universalmente aceitos, que eu colocasse a cadeira no seu lugar. Em resposta, apontei-lhe o sol e a tela, tentando explicar por que mudar a cadeira. Meus esforços foram em vão. Coloquei a cadeira de volta ao seu lugar e me sentei no chão. Isso o perturbou ainda mais. Depois de mais algumas tentativas para conquistar a sua simpatia, ele disse que me sentasse no aquecedor debaixo da janela, de onde eu teria uma boa visão. Entretanto, o primeiro guia a circular por ali com um grupo grande dirigiu-se a mim e falando com severidade mandou-me sair de onde estava e voltar às cadeiras de veludo. Depois disso, o guarda ficou nervoso com o guia e lhe informou, numa profusão de palavras e gestos, que fora ele que me deixara sentar sobre o aquecedor. O guia não se satisfez, mas decidiu voltar sua atenção aos turistas que estavam contemplando Rembrandt e questionando o tamanho dos personagens. Alguns minutos mais tarde Alexei veio ver como eu estava. Imediatamente o guarda s aproximou dele e estava obviamente tentando explicar o que acontecera, mas a discussão durou tanto tempo que fiquei preocupado com o rumo que as coisas tomariam. Então, repentinamente, Alexei saiu. Por um momento me senti culpado de ter causado tanto transtorno e receei ter aborrecido Alexei. Entretanto, dez minutos depois ele voltou carregando uma poltrona grande, estofada, de veludo vermelho e com pernas douradas. Tudo para mim! Com um largo sorriso colocou a cadeira defronte ao quando e pediu que me sentasse. Alexei, o guarda e eu, todos sorrimos. Eu tinha minha própria poltrona e ninguém mais se opunha. De repente, tudo parecia bastante cômico. Três cadeiras vazias que não podiam ser tocadas e uma poltrona luxuosa vinda de uma outra sala do palácio de inverno, à minha disposição, para que eu a colocasse onde me aprouvesse. Cordial burocracia! Pensei se algum dos personagens do quadro que havia presenciado toda a cena estaria sorrindo também. Nunca ficarei sabendo. No conjunto passei mais de quatro horas com o Filho Pródigo, anotando o que eu ouvia dos guias e turistas, o que eu via à medida que o sol se tornava mais forte e desaparecia e, também, o que eu sentia no mais profundo do meu ser à medida que me tornava parte da parábola que fora uma vez narrada por Jesus e que depois Rembrandt havia retratado na sua obra. Fiquei imaginando como esse tempo precioso passado no Hermitage iria qualquer dia produzir frutos. Quando deixei o recinto, me dirigi ao jovem guarda e tentei expressar minha gratidão por me aguentar tanto tempo. Quando olhei nos seus olhos, sob o boné da Rússia, vi um homem semelhante a mim: temeroso, mas com um desejo imenso de ser perdoado. De seu rosto imberbe veio um sorriso muito gentil. Sorri também e ambos nos sentimos a salvo." (PAGINA 7 - 10)
AIH, NESSA VIBE DE PASSEAR NAS LADEIRAS DA MEMORIA E A PARTIR DE UMA GRAVAÇÃO DO NETO, QUE ELE COMPARTILHOU NO GRUPO DO AEP, COMEÇAMOS A NOS LEMBRAR DE OUTRAS APARIÇÕES NA TELINHA E NETO LEMBROU DE QUANDO ELE ERA ALUNO DO APERFEIÇOAMENTO, EU E REJANE OS LEVAMOS À GALERIA DO SESI PARA VER A EXPOSIÇÃO "RETRATO DE ARTISTA" (https://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq1703200118.htm) COM CURADORIA DA KATIA CANTON QUE ESTAVA LAH PARA CONVERSAR CONOSCO E TINHA UM PESSOAL GRAVANDO E NOS PEDIRAM DOIS ALUNOS PRA FALAR, INDICAMOS O NETO E A ANITA. EU FIQUEI BOQUIABERTA DO NETO TER ESTE VIDEO!
(NO MINUTO 17!)
NOSSA! ERAMOS TODOS TÃO NOVINHOS!!
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