quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

10/12/2020

ONTEM FUI FALAR DE ACESSIBILIDADE COM OS ALUNOS DA REJANE NA UNESP. EU QUERIA TER ESCRITO UM TEXTO, MAS NÃO DEU TEMPO E SAIU UMA REFLEXÃO QUE EU AINDA VOU BURILAR: 

Significado de Acessibilidade

Substantivo feminino. Qualidade do que é acessível, do que tem acesso; Facilidade na aquisição de: a acessibilidade de um emprego; Propriedade do material confeccionado para que qualquer pessoa tenha acesso, consiga ver, usar, compreender; diz-se, principalmente, do material que se destina à inclusão social de pessoas com alguma deficiência; Possibilidade de obter algo: acessibilidade de bolsas do governo; Característica de quem se consegue relacionar com facilidade. Acessibilidade é a qualidade do que é acessível, ou seja, é aquilo que é atingível, que tem acesso fácil. 

Comecei este texto pela definição da palavra Acessibilidade no dicionário porque em se tratando da arte/educação essa questão passava por um viés mais social e recebia o nome de democratização da arte.

 “Contudo, não é só incluindo arte no currículo que a mágica de favorecer o crescimento individual e o comportamento de cidadão como construtor de sua própria nação acontece. Além de reservar um lugar para a arte no currículo, o que está longe de ser realizado pelos Estados-membros da Unesco, é também necessário se preocupar como a arte é concebida e ensinada. Em minha experiência, tenho visto as artes visuais sendo ensinadas principalmente como desenho geométrico, ainda seguindo a tradição positivista, ou a arte nas escolas sendo utilizada na comemoração de festas, na produção de presentes estereotipados  para os dias das mães ou dos pais e, na melhor das hipóteses, apenas como livre expressão. A falta de preparação de pessoal para ensinar artes é um problema crucial, levando-nos a confundir improvisação com criatividade. A anemia teórica domina a arte/educação, que está fracassando na sua missão de favorecer o conhecimento nas e sobre artes visuais, organizado de forma a relacionar produção artística com apreciação estética e informação histórica. Essa integração corresponde à epistemologia da Arte. (BARBOSA, 1998, Pg. 17)  

Em 1992, quando da abertura do prédio sede do MAC/USP na Cidade Universitária Ana Mae (então diretora do MAC) chamou um grupo de Piracicaba que confeccionava e ensinava como fazer aqueles tapetes para a procissão de Corpus Christi  com serragem colorida. 

Como diz a sabedoria popular: "santo de casa não faz milagre"  eu não vi isso, mas ouvi esta história inúmeras vezes, mesmo assim pedi à Ana Mae que me contasse tudo de novo e é incrível vê-la reviver sua grande paixão pela democratização da Arte, ela queria que todos se sentissem acolhidos e não apenas os mais ricos. Então quando sugeriram um tapete vermelho (nada mais opressor) ela teve calafrios, no entanto um tapete na entrada seria, no mínimo, bem educado. Só que não um tapete vermelho e sua formação católica, e lembrou dos tapetes de Corpus Christi. Ela ficou claramente emocionada ao contar que as pessoas iam se "achegando" a medida que o tapete ia e compartilhavam suas histórias de infância e no meio do burburinho uma dupla se destacava: eram uma cozinheira do bandejão e o vice-reitor da USP que conversavam animadamente.

“Mesmo na inauguração do novo prédio do Museu, em 1992, tentamos celebrar a linguagem tradicional, ritual e popular da arte, junto com o código dominante. (...) Um grupo de artistas populares foi convidado para desenhar um tapete de areia que começava na rua, atravessava o jardim e chegava até a entrada do museu. Setenta e cinco homens, mulheres e crianças trabalharam dez horas para fazer o tapete. As pessoas ficaram em volta o dia inteiro, enquanto eles trabalhavam, comentando sobre suas próprias experiências nas suas cidades se origem, onde fazem a mesma coisa para a procissão de Corpus Christi, uma tradição no Brasil. 

A identificação com algo conhecido facilitou a entrada no desconhecido. Naquela noite, o museu recebeu 5000 visitantes, entre eles, grande número de trabalhadores de baixa renda da Universidade. Eles não teriam entrado no Museu sem o tapete facilitador. Na América Latina, o medo que as pessoas pobres têm de entrar num museu foi discutido por Nestor Garcia Canclini e Paulo Freire. O pobre se envergonha ao ser confrontado com sua própria ignorância. Entretanto, se eles conseguem coragem para entrar nos museus, eles são conquistados, são seduzidos pelas formas de, pelo menos, um trabalho, como foi comprovado por uma pesquisa que iniciei em 1994, ainda não terminada. Mesmo sem entender eles podem ver o outro. O objetivo dessa pesquisa é encontrar caminhos para introduzir a pessoa comum no museu, despertando o apetite para experiências artísticas mais profundas.” (BARBOSA, 1998, pg. 86). 

A palavra acessibilidade atualmente parece estar diretamente relacionada aos deficientes.

Eu fico com sentimentos dúbios: por um lado acho excelente que estejam pensando nas pessoas com deficiência, mas por outro lado o acesso à cultura por exemplo, deveria ser um direito de todos e dever do estado, só que não né??

TÍTULO III - Da Organização do Estado

CAPÍTULO II - DA UNIÃO

(...)

Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios:

(...) II - cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e garantia das pessoas portadoras de deficiência;

Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre:

(...) XIV - proteção e integração social das pessoas portadoras de deficiência.

 

Assim que eu fiquei tetraplégica e muda em 2002 sobravam barreiras arquitetônicas (Barreira arquitetônica ambiental é toda construção arquitetônica ou da natureza no espaço urbano que impede a livre circulação de pessoas, como por exemplo jardim na calçada, transporte público, bloqueios para carros, árvores ocupando o passeio sem sinalização devida e outros) eram enormes e acabavam ofuscando todas as outras barreiras como a atitudinal (atitudes e/ou comportamentos preconceituosos perpetuados ao longo do tempo que impedem o acesso aos ambientes, bem como os relacionamentos e convívio das pessoas com deficiência com a sociedade, sejam estas ou não intencionais.), a comunicacional (dificuldade gerada pela falta de informações a respeito do local, em função dos sistemas de comunicação disponíveis (ou não) em seu entorno, quer sejam visuais (inclusive em braille), lumínicos e/ou auditivos.) e a estética (O desafio de acionar, acompanhar e compartilhar uma experiência estética. Tudo isto tendo em vista que a proposta é menos de transmissão de informação e de acumulação de saber do que de cultivo da sensibilidade e de invenção de si e do mundo. Enfim, há necessidade de todo um trabalho experimental e ao mesmo tempo investigativo para a inclusão de deficientes, que pode ser ocasião para um questionamento da política educacional do próprio museu.). Hoje em dia, ainda por cima temos que combater o capacitismo que pode ser tão ou mais danoso do que uma barreira física. 

Teria muito mais a dizer, mas prefiro ouvir vocês pois apesar de acharem que sim, eu não sou especialista em acessibilidade, mas eu a vivo cotidianamente.


E HOJE CHEGOU ISSO POR E-MAIL 


ONTEM CAMILA ME MANDOU UM MATERIAL MUITO INTERESSANTE DE CADEIRAS:  

Santa Coloma de Gramenet is a city located in the province of Barcelona, a city that is characterized among other things for its fight against LGTBIfobia. This same year, the first Local Equality Plan was approved for affective, sexual and gender identity diversity, with the objective of avoiding discrimination and defending affective and sexual diversity.

The wall represents different types of chairs, taking the chair as any other element, object or piece of furniture in this case, with which we relate daily. We go through different types of chairs in a day, some turned out to be more comfortable than others, but at no time we questioned the diversity. In a metaphorical way speaking, we can say the same about people, we get related with different persons throughout the day and in the same way, beyond that we can get along better with some than with other, we must respect diversity, because as much in people as in chairs and as in everything, diversity is what beauty does. 






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